A criança é um ser em
contínua evolução à procura de um caminho que não vê com nitidez.
A criança, esse enigma
vivo, difere tanto do adulto, que se torna difícil desvendar-lhe a alma.
Na mesma família, a
diferença entre os irmãos é evidente sob o ponto de vista de inteligência,
afetividade e reação de comportamento. A par dos elementos comuns, cada criança
possui temperamento próprio, base da personalidade. A diferença atinge não só o
plano psíquico como o patológico. A criança é autoritária e destruidora;
algumas doenças como o escorbuto, a poliomielite, o raquitismo são próprias da
infância.
Existem duas espécies de
hereditariedade: a geral, relativa à espécie humana e a específica, que se
relaciona à espécie individual.
Por necessidade de
progresso, a unidade espiritual, provinda de gerações anteriores, procura o
meio adequado ao nascimento. O filho pode, portanto, diferençar dos pais.
Para educar, há
necessidade de estudar e compreender a criança.
Com irresistível simpatia
o menor imita pessoas afins: serviçal, parente, companheiros, coqueteria das
artistas de cinema, rádio e televisão. Não tende apenas a imitar maneiras, mas
também caráter sob a forma de sintomas nervosos.
Será, portanto, errado
atribuir à hereditariedade todas as perturbações do sistema nervoso.
Pais e mestres são
paradigmas da vida infantil. Imitando-os, a criança copiará o modo de trajar,
maneiras corretas ou incorretas de falar, delicadeza ou arrebatamento. E a
afinidade de temperamento conduzirá à igualdade — forma completa da imitação.
Criança é ser vivo em
contínua evolução à procura de um caminho que não vê com nitidez.
Sendo imatura, imita o
adulto inconscientemente no que é bom, mas também no que é mau. Mas à medida
que se desenvolve, a imitação passa de instintiva a voluntária, influindo mais
tarde na estrutura moral.
Tal comportamento deve
ser o ponto de partida para educá-la.
Apesar da hereditariedade
não ter real importância por ser um fenômeno de continuidade, não deve ser
abandonada e a educação se fará em função do temperamento.
A criança não é uma tábua
onde os pais escrevem o que dela desejam fazer! A finalidade educativa consiste
em canalizar instintos, aptidões e tendências para melhorar. Os modelos
escolhidos para a cópia do menor constituem documentação preciosa para
distinguir não só as crises como as remotas aspirações infantis.
O adulto é uma soma, em
grande parte, das identificações da infância. Alguma coisa fica sempre em quem
possui maturidade, embora nenhuma possa ter o poder de marcar-lhe a vida!
Por ser muito sensível, a
criança sente grande prazer quando recebe elogio. Não se esqueçam os pais de
que, acariciando os filhos quando procedem bem e olhando-os friamente quando procedem
mal, estarão agindo eficientemente sob o ponto de vista educativo. Só haverá
progresso onde existir estima e censura.
Essa atitude terá muito
mais valor que ameaças e castigos, porque induz a compreender, em pouco tempo,
o tratamento diferente. Falar constantemente à criança para repreendê-la é
cometer grave erro, pois o elogio dá largueza, incentiva, ao passo que a
crítica permanente fere e acaba mutilando. Pior ainda é viver num ambiente
apático e neutro onde reina uma concepção meramente abstrata e impraticável sem
o acompanhamento afetivo a exercer influência sobre a conduta humana. Se tal
situação é prejudicial ao adulto, muito mais o será à criança!
Tão grande importância
tem a sugestão na vida infantil, que meios morais e psicológicos são capazes de
criar um instinto artificial. Dizer-lhe que é doente equivale a atrair sobre
ela enfermidade.
Sendo crédula, a criança
amolda-se a merecer a definição que lhe fazem. E grande número de anomalias se
deve às desastrosas sugestões de pais ignorantes ou de educadores
imprevidentes.
Quem diz à frente de um
menor que ele não é inteligente, que é preguiçoso ou estouvado, estará criando
defeitos que apenas existem em estado embrionário. Alguns estados neuróticos
resultam de sugestões brutalizantes que provocam medo e despertam sentimentos
de ódio.
Não se conserva uma
criança normal, sugerindo-lhe idéias anormais ou doentias, mas lembrando que a
realização de um sentimento bom é um convite ao mau a ceder-lhe o lugar.
Embora com restrições ou
influências contrárias, o ser humano é naturalmente crédulo e esse sentimento
se reforça quando o que afirma tem autoridade. Mas quando a criança ou o
adolescente são ludibriados em sua boa fé, podem chegar ao extremo de mudar,
inconscientemente, de temperamento, passando de pessimistas a cínicos.
Quantos defeitos serão
evitados se a boa vontade dos adultos tocarem nos pontos fracos para
transformá-los nas qualidades que devem ser apuradas!
Falar sempre na qualidade
oposta ao defeito é higiene mental.
Malícia, teimosia, vício,
são sugestões malignas de más companhias.
É falsa a idéia de
atribuir à hereditariedade o que vem de fora.
Tudo que se disser em voz
alta a uma criança sobre o próprio estado mental terá o efeito de sugestão. Por
isso, diante de um ato reprovável, o papel do educador é procurar corrigi-lo,
mas com o cuidado de não interpretá-lo no pior sentido. Supor um vício pode
redundar em produzi-lo.
A vida humana se resume
num conjunto de hábitos que a criança está sempre à procura nos próprios
movimentos.
Se a imitação sucessiva
se transforma em hábito, deduz-se que a uniformidade de costumes morais e
sociais tem grande importância em educação.
Estudando a criança
Por Olga Brandão Cordeiro
de Almeida
Fonte: Site do Racionalismo Cristão - Livro Caminhos Certos
Colaboração: Rute Helena Macário
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Colaboração: Rute Helena Macário
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