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Estudando a criança - Por Olga Brandão Cordeiro de Almeida

A criança é um ser em contínua evolução à procura de um caminho que não vê com nitidez.

A criança, esse enigma vivo, difere tanto do adulto, que se torna difícil desvendar-lhe a alma.

Na mesma família, a diferença entre os irmãos é evidente sob o ponto de vista de inteligência, afetividade e reação de comportamento. A par dos elementos comuns, cada criança possui temperamento próprio, base da personalidade. A diferença atinge não só o plano psíquico como o patológico. A criança é autoritária e destruidora; algumas doenças como o escorbuto, a poliomielite, o raquitismo são próprias da infância.

Existem duas espécies de hereditariedade: a geral, relativa à espécie humana e a específica, que se relaciona à espécie individual.

Por necessidade de progresso, a unidade espiritual, provinda de gerações anteriores, procura o meio adequado ao nascimento. O filho pode, portanto, diferençar dos pais.
Para educar, há necessidade de estudar e compreender a criança.

Com irresistível simpatia o menor imita pessoas afins: serviçal, parente, companheiros, coqueteria das artistas de cinema, rádio e televisão. Não tende apenas a imitar maneiras, mas também caráter sob a forma de sintomas nervosos.

Será, portanto, errado atribuir à hereditariedade todas as perturbações do sistema nervoso.

Pais e mestres são paradigmas da vida infantil. Imitando-os, a criança copiará o modo de trajar, maneiras corretas ou incorretas de falar, delicadeza ou arrebatamento. E a afinidade de temperamento conduzirá à igualdade — forma completa da imitação.

Criança é ser vivo em contínua evolução à procura de um caminho que não vê com nitidez.

Sendo imatura, imita o adulto inconscientemente no que é bom, mas também no que é mau. Mas à medida que se desenvolve, a imitação passa de instintiva a voluntária, influindo mais tarde na estrutura moral.

Tal comportamento deve ser o ponto de partida para educá-la.

Apesar da hereditariedade não ter real importância por ser um fenômeno de continuidade, não deve ser abandonada e a educação se fará em função do temperamento.

A criança não é uma tábua onde os pais escrevem o que dela desejam fazer! A finalidade educativa consiste em canalizar instintos, aptidões e tendências para melhorar. Os modelos escolhidos para a cópia do menor constituem documentação preciosa para distinguir não só as crises como as remotas aspirações infantis.

O adulto é uma soma, em grande parte, das identificações da infância. Alguma coisa fica sempre em quem possui maturidade, embora nenhuma possa ter o poder de marcar-lhe a vida!

Por ser muito sensível, a criança sente grande prazer quando recebe elogio. Não se esqueçam os pais de que, acariciando os filhos quando procedem bem e olhando-os friamente quando procedem mal, estarão agindo eficientemente sob o ponto de vista educativo. Só haverá progresso onde existir estima e censura.

Essa atitude terá muito mais valor que ameaças e castigos, porque induz a compreender, em pouco tempo, o tratamento diferente. Falar constantemente à criança para repreendê-la é cometer grave erro, pois o elogio dá largueza, incentiva, ao passo que a crítica permanente fere e acaba mutilando. Pior ainda é viver num ambiente apático e neutro onde reina uma concepção meramente abstrata e impraticável sem o acompanhamento afetivo a exercer influência sobre a conduta humana. Se tal situação é prejudicial ao adulto, muito mais o será à criança!

Tão grande importância tem a sugestão na vida infantil, que meios morais e psicológicos são capazes de criar um instinto artificial. Dizer-lhe que é doente equivale a atrair sobre ela enfermidade.

Sendo crédula, a criança amolda-se a merecer a definição que lhe fazem. E grande número de anomalias se deve às desastrosas sugestões de pais ignorantes ou de educadores imprevidentes.

Quem diz à frente de um menor que ele não é inteligente, que é preguiçoso ou estouvado, estará criando defeitos que apenas existem em estado embrionário. Alguns estados neuróticos resultam de sugestões brutalizantes que provocam medo e despertam sentimentos de ódio.

Não se conserva uma criança normal, sugerindo-lhe idéias anormais ou doentias, mas lembrando que a realização de um sentimento bom é um convite ao mau a ceder-lhe o lugar.

Embora com restrições ou influências contrárias, o ser humano é naturalmente crédulo e esse sentimento se reforça quando o que afirma tem autoridade. Mas quando a criança ou o adolescente são ludibriados em sua boa fé, podem chegar ao extremo de mudar, inconscientemente, de temperamento, passando de pessimistas a cínicos.

Quantos defeitos serão evitados se a boa vontade dos adultos tocarem nos pontos fracos para transformá-los nas qualidades que devem ser apuradas!
Falar sempre na qualidade oposta ao defeito é higiene mental.

Malícia, teimosia, vício, são sugestões malignas de más companhias.

É falsa a idéia de atribuir à hereditariedade o que vem de fora.

Tudo que se disser em voz alta a uma criança sobre o próprio estado mental terá o efeito de sugestão. Por isso, diante de um ato reprovável, o papel do educador é procurar corrigi-lo, mas com o cuidado de não interpretá-lo no pior sentido. Supor um vício pode redundar em produzi-lo.

A vida humana se resume num conjunto de hábitos que a criança está sempre à procura nos próprios movimentos.

Se a imitação sucessiva se transforma em hábito, deduz-se que a uniformidade de costumes morais e sociais tem grande importância em educação.

Estudando a criança

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