Grupos afins se reúnem para adorar, de um certo modo, um certo deus. Cada povo, cada raça, criou a imagem desse deus à sua própria semelhança. Um oriental, por exemplo, jamais admitiria um deus com feições ocidentais, assim como um ocidental acharia absurda e até ridícula, a ideia da divindade de rosto asiático.
Os deuses possuem, invariavelmente, os caracteres físicos e mentais dos seres que os conceberam.
Não importa que estes, invertendo a realidade dos fatos, afirmem que foi deus quem criou o homem à sua imagem.
A verdade é bem outra, e não é preciso ter grande imaginação para descobrir o logro multissecular de que tem sido vítima a humanidade.
Foi o homem quem imaginou, quem concebeu, quem criou os deuses. Criou-os, mentalmente, com a forma humana e as mesmas qualidades e defeitos que possui.
Nessa criação, estão claramente refletidos os sentimentos dos criadores. O deus corpóreo figura em todas as religiões. No credo – que é a oração principal de uma delas – aparece com o filho sentado ao seu lado direito, compondo um quadro da vida material comum.
O conceito da divindade, embora variando de raça para raça, não modifica a tendência geral relativamente à concepção do deus-rei todo poderoso, distribuindo prêmios e castigos.
Na Bíblia, no Velho Testamento – livro sagrado e intocável para tantos adoradores – existem várias referências ao deus de temperamento iracundo e vingativo da época.
Esse vergonhoso sentimento, especialmente em um deus, nada mais é do que o reflexo do sentimento do próprio povo que o imaginou.
A indigência de conhecimentos impõe certa condição de dependência. Esta verdade, que se constata na vida terrena, ainda é mais evidente quando envolve questões espirituais.
O que interessa ressaltar, para que fique bem claro, é o modo pelo qual o ser processa a sua marcha evolutiva, em que conquista, passo a passo, a independência espiritual.
Quando a criatura, de evolução em evolução, chegar a compreender que é, como espírito, Força, Inteligência e Poder; quando se convencer de que possui atributos morais para vencer, racionalmente, quaisquer dificuldades; quando adquirir a consciência da sua condição de partícula de um Todo harmônico – dele inseparável – que é o próprio Universo Espiritual, caem por terra, como inautênticas e ridículas, as idéias primitivas do deus protetor ao qual vivia jungida.
As religiões perdurarão enquanto puderem contar com adoradores para protegê-las e sustentá-las. Não importa que os objetos da adoração sejam os astros, as manifestações da natureza, os animais inferiores ou as imagens alegóricas de barro, de madeira ou mesmo de ouro.
A verdade é que os adoradores pertencem todos a uma classe idêntica, embora de diferentes categorias. São candidatos a reencarnações sucessivas neste laboratório psíquico que é o mundo Terra, até que o amadurecimento espiritual os faça compreender a realidade das coisas.
No conhecimento da vida fora da matéria estão os lúcidos elementos de convicção, por meio dos quais o ser humano adquire suficiente valor para libertar-se das falsas concepções que o trazem preso às douradas fantasias dos mistérios, do milagre e do sobrenatural.
Deus – Criação Humana
Por Luiz de Mattos