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In memoriam - 50 anos da desencarnação - Maria Cottas – Por Emir Nunes de Oliveira

Nossa Homenagem aos 70 anos da desencarnação da Senhora Maria Cottas - 05/09/1900 – 30/10/1971 -

Diário do Congresso Nacional de 10.11.71 – Jornal A RAZÃO, Rio de Janeiro de 20.11.71

In memoriam de Maria Cottas – Por Emir Nunes de Oliveira

Há os que deixam a vida, ignorando o que vieram fazer, há os que jamais produziram algo de apreciável, sempre existiu a massa anônima, apenas preocupada em viver de qualquer jeito.

Existem e existiram sempre os capazes, os modestos, que muito fizeram e ficaram ignorados a contrariar o vezo atual da auto e falsa promoção.

Propõem-se uns obter glória a todo o custo, outros fortuna, alguns perseguem o poder, todos ansiando satisfazer a sua própria vaidade, aparecer na vida, e por que não?

– gozá-la.

A maioria passa, como disse o poeta, em branca nuvem, despreocupados, vivendo o dia a dia ao sabor dos acontecimentos, rindo ou sofrendo, como habitualmente acontece.

A vida é naturalmente um bem precioso, e seu uso, sem egoísmo e com objetivação elevada, pode servir ao mais empedernido agnóstico, e com melhor razão ao ser altamente espiritualizado.

Findou-se no dia 30 de outubro próximo findo uma senhora que soube escolher uma motivação excepcional e se desligou dos objetivos inferiores da vida a tal ponto, que viveu estranha aos ultrajes, impassível, superior aos prazeres e às dores, invulnerável à falsidade e à maldade, completamente devotada à sua família e ao próximo, que também ela considerava família.

Escritora de mérito, procurou em toda a sua produção literária orientar os jovens e educá-los, mostrando-lhes a beleza de uma vida virtuosa, orientada para o bem comum, constituindo-se ela própria em exemplo vivo, com a circunstância de modestamente encobrir coragem e valor excepcionais.

Em Folhas Esparsas, está retratado em capítulo sobre o Dever, em linguagem feminina e encantadora, o código que se impôs.

Analisem: - "Mas, mamãe, já estou saturada de teus conselhos... ou por outra, de ouvir essa mesma palavra sempre – dever! Tudo é dever para ti. Consideras a vida repleta de deveres. Por que não falas também em prazer e idealismo? Tenho vinte anos, mamãe...

– Por isso mesmo, minha filha, porque tens vinte anos, quero que compreendas a intenção de meus conselhos. Não sentes que te envolvo na ternura de meu olhar, enquanto minhas palavras brotam dos lábios? Não vês que não ofendo a tua mocidade, o teu entusiasmo, que não te castigo com meus conselhos?

– ... Idealizas? Fazes bem, minha filha. É preciso algo de sonho na vida. Eu também sonhei!... Idealizar é imaginar um mundo formoso, uma existência cheia de encantos, é construir, com pequeninas alegrias, uma grande; é expulsar o mesquinho, o grotesco da vida, envolvendo a alma de Sol.

A vida de quem sonha é clara e risonha, traz asas no espírito e seus pés mal pousam na terra.

– Mas, supões tu, porventura, que o dever te impedirá de idealizar? Não, tampouco te afastará do prazer. O que eu quero é incutir no teu espírito esse amor ao dever que eu sempre tive e tenho ainda.

Foi o dever que impôs disciplina a meus atos, e eu te asseguro que somente com ele se pode ser feliz, verdadeiramente feliz.

O dever é o que há de mais honroso na vida, pois nos devolve com juros tudo quanto lhe sacrificamos.

É o único que nos deixa um bem-estar indefinido na alma. É o único que, uma vez cumprido, dá lugar ao direito".

Digna filha do ilustre fundador desta folha, o inolvidável Luiz José de Mattos, foi a companheira, a esposa perfeita do intemerato lutador, digno e ilustre sucessor do sogro, o nosso inconfundível Antônio do Nascimento Cottas, deixando filhas e descendentes que verdadeiramente honram os pais.

Maria Júlia de Mattos do Nascimento Cottas, a querida Mariazinha dos íntimos, está presente e ficará na memória de quantos a conheceram e será exemplo para a posteridade de desprendimento, dedicação, valor, altruísmo e bondade.

In memoriam - 50 anos da desencarnação de Maria Júlia de Mattos do Nascimento Cottas - 05/09/1900 – 30/10/1971 – Por Emir Nunes de Oliveira

Fonte: Livro Crônicas Oportunas - Maria Cottas - 4a. Ed. RJ

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