Assim como, ao se
casarem, duas pessoas que se amam mutuamente trocam sentimentos elevados de
influências construtivas, também existem as que se valem de conceitos
indesejáveis, penosos a si e aos filhos.
Nessas condições,
estabelece-se um acordo inconsciente, cujas humilhações e degradações são
descarregadas nos filhos, verdadeiros “bodes expiatórios”, sem defesa,
incapazes de um contra-ataque.
Há necessidade, para boa
orientação da família, que exista consonância afetiva do pai e da mãe, que
farão do lar uma pequena sociedade cuja lei seja “paz na ordem”. Na casa onde
não mora o sossego, proliferam irritabilidade, violência, pessimismo.
— Como poderá o filho
(sem considerarmos os casos excepcionais) adquirir consonância afetiva por si,
não a encontrando nos pais? — Inventando-a por conta própria?
Mostra-nos a experiência
que onde existe conflito conjugal, há, quase de um modo automático, o conflito
paralelo nos filhos.
E conflitos são promessas
de fracasso…
Os desvios morais do
adulto têm origem na infância, cujos acontecimentos são capazes de retardar o
desenvolvimento mental.
A vida dos pais é um
espelho, onde os filhos se miram; o exemplo dos pais vale por uma lição. A
criança se utiliza dele para tornar-se adulta. E o processo educativo é tanto
mais eficiente quanto mais espontâneo e inconsciente.
O inconsciente se refere
ao exemplo; o espontâneo representa a maneira por que é posto em prática. Uma
palmada pode assumir as proporções de um trauma como pode ser um despertar de
consciência. Tudo depende do clima de afeto existente, tudo depende do bom senso
de quem o aplica.
O ambiente de afetividade
é tão necessário à vida, que, na infância, a compreensão afetiva precede a
intelectual.
Aos olhos não
esclarecidos, a vida é cheia de surpresas. Decorrem, porém, de reações
psíquicas sutilíssimas.
É o caso em que a criança
perturba, em parte, a harmonia entre os pais, lançando-os um contra o outro,
acrescentando a esse triste espetáculo o desastre da própria educação.
Parece, à primeira vista,
impossível que um filho possa ser pomo de discórdia dos próprios pais. Mas o
espírito pode encontrar um ambiente desfavorável ao próprio progresso depois do
nascimento, embora o tenha escolhido antes de nascer! É que os pais, como
pessoas, estão sujeitos a modificações no tempo e no espaço.
Outras situações podem
ainda desvirtuar as relações afetivas que devem existir entre pais e filhos.
Nem sempre a vinda de uma
criança é bem recebida por um dos cônjuges.
Sucede ainda revelar o
pai certa animosidade em relação ao menino porque desejava o nascimento de uma
filha.
Paira, às vezes, um
desentendimento, uma espécie de ciúme mal revelado no meio ambiente onde o
marido não percebe que na mulher o comportamento materno suplanta o conjugal;
onde a mãe não compreende que para o homem os comportamentos conjugais têm a
primazia em relação aos paternos.
As relações psíquicas são
tão profundas quanto pouco conhecidas!
Não são poucos os pais
que acham que educar um filho é pô-lo na situação de curvar-se às sanções
aplicadas, às ordens dadas, aos estudos escolhidos.
Em alguns casos, pode ser
que esse sistema autoritário dê resultado, mas quase sempre cria a criança difícil,
chamada “problema”.
Toda criança é um
problema. Basta que esteja em relação a outras pessoas. Seu lugar em relação à
família não pode ser de simples justaposição entre o pai e a mãe, mas de uma
presença suposta com trocas de afetividade.
Se essas trocas forem realmente
sinceras, se houver consonâncias normais, não haverá criança difícil. Mas se
tais condições não forem preenchidas, a criança será um problema difícil para os
pais e para si mesma.
Separação e solidão são
as características de famílias que não vivem num plano mental elevado.
Sofrem influências cujos
padrões de conceitos errados dos antepassados tornam-nas incapazes de
raciocinar.
Relações familiares