“Não furte nunca e muito menos a inocente alegria dos filhos”
Foi essa manchete que me chamou atenção ao começar a ler uma das
nossas folhas diárias.
O título sugestivo fez-me procurar o conteúdo.
Tratava-se de liberdade provisória concedida a um ladrão primário que,
desempregado, com mulher e filhos doentes, na noite de Natal, fora preso numa
frustrada tentativa de delito.
Admirei a atitude digna do Juiz da 8ª. Vara Criminal que, ao conceder
a liberdade condicional, num gesto de respeito à pessoa humana, exortava-a ao
trabalho honesto e à maneira correta de conduzir-se. Analisei, com tristeza, o
calvário que deve ser a vida de um homem que, acossado pelo sofrimento
resultante naturalmente de erros cometidos e vícios, chega a tal ponto de
penúria, que é impelido ao crime.
É evidente que a vida tem fases que se apresentam adversas, com
sérios problemas, mas há, também, para resolvê-los o raciocínio a serviço da
vontade.
Se esse homem se firmasse em pensamentos de valor e procurasse reagir contra seus próprios erros e falhas, nunca poderia deixar-se envolver pelas forças inferiores, de tal maneira que delas se transformasse num joguete, deixando-se arrastar para o crime.
Se esse homem se firmasse em pensamentos de valor e procurasse reagir contra seus próprios erros e falhas, nunca poderia deixar-se envolver pelas forças inferiores, de tal maneira que delas se transformasse num joguete, deixando-se arrastar para o crime.
Possui o homem uma poderosa arma que se chama livre arbítrio,
para lutar contra seus próprios defeitos e impulsos. Se for capaz de vencê-los,
a vitória lhe proporcionará o aprimoramento do caráter, mas, se fracassar na
luta, terá como consequência o livre arbítrio transformado em mero
temperamento. Será um temperamental e a vida se tornará difícil para si e para
os que com ele convivem.
Durante o sono, o espírito se religa às forças superiores para
refazer-se e tornar-se forte. É necessário, por isso, que as horas do sono sejam
precedidas de pazes feitas no meio ambiente.
Refeito durante a noite, através de um sono tranquilo,
despertará cheio de simpatia para com a vida.
Ao contrário, uma atmosfera carregada de silêncios e desavenças
gera um ambiente de indiferença ou represália, o que constitui má contribuição
para uma vida eficiente e salutar.
Nossas falhas não são irremovíveis como as das pedras preciosas,
pois resultam da má adaptação ao meio e por isso, quando as coisas não correm
bem, a melhor atitude, honesta e corajosa, é observar os próprios defeitos,
procurar corrigi-los sem olhar os alheios.
A liberdade concedida a esse ladrão primário foi também uma
advertência aos chefes de família que julgam que dão tudo quando apenas dão o
alimento.
Existem duas coisas de inestimável valor que os pais devem
oferecer aos filhos: a felicidade de um lar bem organizado com disciplina,
respeito, amor e trabalho, e a alegria resultante dessa organização. Um
direito, porém, não lhes assiste: o de envergonhar os filhos com uma vida
irregular. Aos pais, compete-lhes a grande responsabilidade da manutenção econômica
e moral do lar para preparar o futuro dos filhos, não um futuro remoto, mas o
que se inicia no presente, porque hoje ainda é tempo de remediar o mal.
A sentença desse Juiz, além de uma bela lição a um pai
criminoso, que acabava de ser punido, foi também uma advertência a muitos pais
criminosos que vivem impunes. Desses, os piores são os que, ao abandonarem o
lar, pretendem ludibriar os outros com falsas justificativas, que não conseguem
inocentá-los do monstruoso crime — o de roubar a alegria dos filhos.
O pior dos roubos
Por Olga Brandão de Almeida
Fonte:
Livro
Caminhos Certos
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