Este capítulo é destinado especialmente àqueles que estiverem dispostos a quebrar as algemas sectárias para, pela libertação espiritual, se tornarem capazes de ascender a regiões que o materialismo religioso jamais poderá alcançar.
Compreende-se, perfeitamente, que o índio das selvas não tenha uma concepção da espiritualidade que vá além da mística de adoração ao fogo, ao raio, ao Sol ou aos animais inferiores, por lhe faltarem bases de raciocínio para demovê-lo da perplexidade adoratória a que se entrega.
A primeira idéia de deus, repelida pelos mais civilizados e aceita por esses seres primitivos, surge, precisamente, nas condições acima apontadas.
Nenhuma lei natural falha, inclusive a da evolução. No tocante ao espírito, a evolução se processa, como foi explicado, através de incontáveis encarnações, e só por meio delas o raciocínio se vai desenvolvendo no amplo caminho da espiritualidade, sob cuja luz o misticismo perde a forma, o sentido, a significação, para dar lugar somente ao que o bom senso e a lógica admitem como verdadeiro, com fundamento nas lições aprendidas no volumoso Livro da Vida.
Tão logo principia a raciocinar, na primeira fase de encarnação em forma humana, o espírito sente, ainda que de maneira vaga e confusa, a existência de uma Inteligência Superior que não é capaz de definir. Nasce, daí, a sua inclinação adorativa, que as condições da ignorância em que vive plenamente justificam.
Ao observador atento não é difícil avaliar o grau de espiritualidade dos seres pela tendência que manifestam para a adoração, assim como a maior ou menor intensidade dessa tendência.
O modo de adorar e o objeto adorado variam, na medida em que a consciência da vida vai despertando, até chegar ao ponto de poder a criatura repelir o sentimento de adoração.
Adora-se, de um modo geral, para mendigar favores e proteção. A adoração, pois, acusa uma condição de ignorância e inferioridade espiritual.
É no estado primitivo, na condição de selvagem, que o indivíduo sente o primeiro impulso, o primeiro gesto, o primeiro movimento adorativo.
De encarnação em encarnação ascende ele às classes ditas civilizadas conservando esse mesmo sentimento, porém modificado na forma, já que mais polido, mais requintado para satisfazer as condições sociais do meio, mas mantendo, no fundo, o mesmo pensamento e a mesma idéia que o geraram no passado.
As religiões usam sempre aparatos para impressionar os seus adeptos. A maioria deles é destinada a incentivar a adoração.
Deuses e Religiões
Por Luiz de Mattos
Fonte: Livro Base do Racionalismo Cristão – 42ª. Edição
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