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A vaidade - Por Maria Carlota Pires

O mundo anda mal. O mundo anda mau. Nas duas situações há um único entendimento, via de regra, aos olhos do senso comum: a vida no planeta Terra está cada vez mais difícil. 

Para muitos, o mundo está dividido entre o grupo dos que são bons, e entre o grupo dos que são maus. Visão puramente maniqueísta e, porque não dizer, visão empobrecida da realidade. Mas, interessante observar nesse modelo maniqueísta da vida terrena que, de modo geral, aqueles que se colocam no "grupo dos que são bons" são a priori espíritos dotados de posturas sectárias diante da vida e, não raro, julgam-se acima do bem e do mal.

Julgar-se a si mesmo como um ser superior, ilibado, entre uma listagem de adjetivos é, sobretudo, exercer um mal secular que atravessa o espírito, especialmente no contexto contemporâneo. Trata-se de um mal que acomete os seres de modo geral: a vaidade.

Ao analisarmos a Antiguidade Clássica, por exemplo, veremos que os feitos de ordem política, religiosa ou de conquistas bélicas, cito Júlio Cesar na "Conquista da Gália" não podem ser relacionados ao sentimento da vaidade, visto que tais ocorrências fizeram parte do processo evolutivo do planeta Terra, diferente da vaidade dos reis medievais, os quais consolidaram religiões e fundaram templos calcados no luxo e na opulência.

O Racionalismo Cristão nos ensina que a vaidade é puro fruto da ignorância, da pouca condição racional do espírito, que não visualiza com clareza a sua própria realidade, assim como a realidade à sua volta.

No estágio atual da humanidade, em que o materialismo exacerbado acende cada vez mais o sentimento da vaidade, especialmente entre aqueles espíritos pouco esclarecidos, o verbo "ter", em detrimento ao verbo "ser", é conjugado soberbamente desde a primeira infância quando, não raro, a criança materialmente mais abastada do que uma sua semelhante não exita em dizer: "eu tenho um carrinho de controle remoto, você não tem".

Interessante notar que a vaidade é permeada de tantos outros sentimentos inferiores, como o da humilhação, o da inveja, o da ira, o da avareza:

"Na ordem evolutiva, cada indivíduo bem intencionado procura despojar-se dos defeitos que vai notando em sua própria personalidade, mas conserva os que lhe escapam. Esse procedimento assim mesmo varia de pessoa para pessoa. Uns, enquanto procuram dar combate à vaidade, esquecem-se da avareza; outros, esforçando-se por dominar a inveja, deixam-se levar pela luxúria, e assim por diante." (Racionalismo Cristão, 2003).

O adulto que cresce naquela criança cultivará a vaidade para o resto de sua vida terrena, pois é na infância que aprendemos os bons e maus hábitos e sentimentos, como nos ensina o Racionalismo Cristão.

Entretanto, importante ressaltar que a vaidade não se manifesta apenas em espíritos pouco esclarecidos ou em pessoas de boa condição econômica. A vaidade é uma mazela espiritual que afeta a todos, independentemente de sua condição social ou econômica. A aquisição do conhecimento acadêmico, por exemplo, pode inflamar os seres mais ao sentimento da vaidade do que ao sentimento do simples compartilhar do saber, colaborando, então, para a melhoria do planeta Terra.

Nesse sentido, o conhecimento não se presta ao esclarecimento do espírito, visto que ele irá guardar o conhecimento adquirido apenas para si mesmo, supostamente exercendo aquilo que lhe seria devido: transmitir o saber. No caso de um educador, cuja maior missão é compartilhar o conhecimento, a oferta de seu saber torna-se mínima para o próximo, pois este profissional julgando-se detentor do conhecimento age movido pelo sentimento da vaidade, quando aliado ao sentimento de desprezo, impaciência, intolerância, superioridade em relação ao outro, que é visto como um incapaz aos olhos deste profissional, o qual não admite "concorrências". Este suposto educador é levado, não raro, a praticar os métodos mais sórdidos em relação ao seu "competidor", lhe tolhendo os passos de um possível crescimento profissional.

Dessa maneira este mal secular vai atravessando os espíritos pouco esclarecidos, mesmo detentores de um grande conhecimento, em qualquer que seja a profissão. Interessante observar que mesmo os espíritos mais esclarecidos, do ponto de vista espiritual, por vezes possuem grande dificuldade para se livrar da pontinha de vaidade que lhes atravessa o interior de seus pensamentos.

Julgar-se bom, espiritualista, honesto ou bem-feitor, não são suficientes para que o indivíduo destitua-se por completo do sentimento da vaidade.

Ao contrário, visto que declarar algo significa envaidecer-se com uma condição supostamente "superior" em relação ao outro. Mais do que nos julgarmos pessoas de bem, pessoas do bem, é fundamental que exerçamos verdadeiramente a prática do Racionalismo Cristão, sempre pondo em ação o nosso livre-arbítrio para o bem. Apenas com o bom uso do livre arbítrio estaremos salvos de qualquer sentimento inferior, como o da vaidade, e passaremos a ocupar, sem dúvida, os quadros dos que realmente fazem parte de um mundo bom, na escola da vida.

A vaidade
Por Maria Carlota Pires

Fonte: A Gazeta do Racionalismo Cristão

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